sexta-feira, 23 de maio de 2008

Graças e Desgraças 2

O destino era vil
Mas a malta p´ra animar
Diz que a tal “chuva civil”
Nunca molha militar!

Uma tenda p´ros papéis,
Onde ficam os sargentos;
Uma só p´ros furriéis,
E outra p´ros mantimentos.

Outra para as transmissões,
- Posto de telegrafia –
Outra para as injecções,
Que sirva de enfermaria!

Uma só p´ra oficiais
Que suas razões alegam,
Fardamento, materiais,
- Bolas que as tendas não chegam!...

Mas há que desenrascar;
E só com panos e estacas,
Lá se conseguem montar
Mais umas tantas barracas.

E há também que escavar
P´ra protecção, as trincheiras;
Que os turras estão a espreitar
E as noites são traiçoeiras.

Outra vala há que afundar,
Longe de cada barraca;
Quando a vontade apertar
P´ra se poder fazer… caca!

A noite chega bem cedo
E a malta está estafada.
Vai-se deitar, mas com medo
De vir a ser atacada.

Ouvem-se tiros então
Naquela noite de breu;
Quem começou não sei não,
Toda a gente respondeu.

Sem ver o alvo, atirar,
Só p´ra assustar, mas que asneira,
Há o perigo de ficar
Sem balas na cartucheira.

E lá saio a berrar
A dizer aos rapazotes
Para os cartuchos poupar
Que o resto… está nos caixotes!

Mas naquela aflição
- Ai de mim nem reparei -
Estava em cuecas, e então,
Eu em alvo me tornei…

No meio do acampamento
Com as minhas brancas cuecas
Pensei naquele momento
Afinal somos bem “Chekas”.

E até um dos sargentos
O Silva, já tarimbado,
Com o morteiro sessenta
Fez fogo p´ra todo o lado.

Mas o alarme era falso;
Fora alguém que se assustou,
Cometendo esse percalço
E aos tiros começou.


Das tendas, no Sol nascente,
A gente tem que saltar
Ficava aquilo tão quente
Sai-se para não assar.

Quando nos queremos vestir
Temos que nos pôr de gatas E a roupa sacudir
Ou saltamos com as baratas.

Mandei fazer para mim,
De princípio, uma palhota
Maticada e com capim
E que era mais frescota.

Quando acaso se estampava
Auto-tanque com cimento
Logo a gente o confiscava
Melhorando o acampamento.

A água se ia buscar
No início ao AB 7
Tendo que calcorrear
‘Inda para lá de Tete.

De gasóleo eram os bidons
Onde a água se acarretava;
Ficavam os comeres tão bons
Com o cheiro que aquilo dava!

A cozinha, a céu aberto,
Era coisa emporcalhada;
E com as moscas decerto
Era a carne recheada…

O Seixas bem se esforçou,
-Que era o cabo cozinheiro -
Umas chapas arranjou
E ali fez um telheiro.

Autoria: O "nosso" Capitão

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