sexta-feira, 23 de maio de 2008
Barragem de Cabora Bassa
A barragem de Cahora Bassa (Cabora Bassa durante o período colonial português) situa-se no Rio Zambeze, na província de Tete (a 120km desta cidade), em Moçambique.
A sua albufeira é a segunda maior de África, com uma extensão máxima de 250 km em comprimento e 38 km de afastamento entre margens, ocupando cerca de 2700 km² e tendo uma profundidade média de 26 metros.
É ainda a maior barragem em volume de betão (ou concreto, no português do Brasil) construída em África.
É actualmente o maior produtor de electricidade em Moçambique, com capacidade superior a 2000 megawatts, que abastece Moçambique (perto de 250MW), África do Sul (1100MW) e Zimbabué (400MW). Decorrem negociações para o abastecimento do Malawi com energia eléctrica de Cahora Bassa.
"Kahoura-Bassa", grafia original da barragem na língua nhúngue, falada na região de Tete, significa "Acaba o trabalho".
O sistema hidroeléctrico esteve apenas esporadicamente a funcionar durante a década de 1980, devido à guerra de desestabilização de Moçambique.
Em 1986, a barragem recebeu a visita do então presidente da República de Moçambique, Samora Machel. A seguinte inscrição comemorativa foi então colocada:
"Esta maravilhosa obra humana do género humano constitui um verdadeiro hino à inteligência, um promotor do progresso, um orgulho para os empreiteiros, construtores e trabalhadores desta fantástica realização.Cahora Bassa é a matriz do desenvolvimento do Moçambique independente.Os trabalhadores moçambicanos e portugueses, fraternalmente, juntando o suor do seu trabalho e dedicação, garantem que este empreendimento sirva os interesses mais altos do desenvolvimento e prosperidade da R.P.M. Moçambicanos e Portugueses consolidam aqui a unidade, a amizade e solidariedade cimentadas pelo aço e betão armado que produziu Cahora Bassa. Que Cahora Bassa seja o símbolo do progresso, do entendimento entre os povos e da paz no mundo."— Samora Machel - Songo, 17 de Setembro de 1986A 31 de Outubro de 2006 o Estado português vendeu parte da participação de 82% que detinha no consórcio, ao estado moçambicano, por 740 milhões de Euros, ficando apenas com 15% do capital. Os restantes 85% passaram a caber ao Estado moçambicano, em troca de 950 milhões de dólares. O acordo foi assinado entre o primeiro ministro português José Sócrates e o presidente moçambicano Armando Guebuza, em Maputo. A última tranche do pagamento devido pelo estado moçambicano só se realizou a 27 de Novembro de 2007, tendo a cerimónia de reversão do empreendimento para Moçambique sido realizada na vila do Songo a 28 de Novembro de 2007.
Graças e Desgraças 5
E certa noite uma delas,
Não estava p´ra brincadeiras
Pirou-se p´ras sentinelas.
Não sei o que se passou;
Mas fiquei desconfiado
Que ela até apreciou
A protecção do soldado!
E o GE p´ra se vingar
Não se lembrou de mais nada
E resolveu atacar
Companhia… à morteirada!
Para o Songo são escoltas
Barragem Cabora Bassa;
P´ra cá e p´ra lá às voltas
Embuscadas… que desgraça.
Entre o Matambo e o Mufa
Ficam os Montes Zemica;
De quando em vez tufa… tufa
Que assustada a malta fica.
Se para a barragem se move
Alguma critica carga
É o quilómetro 19
Que vai sempre na ilharga.
P´ra Rodézia, outra esticada,
Cochemane na fronteira,
A estrada era asfaltada
Mas põem minas à beira!
Certa vez um pelotão
- Salvo erro era o terceiro -
Foi fazer uma incursão
Em busca do guerrilheiro.
Comandava o Amieiro
Mas quem diria, coitados,
Na mata pisam vespeiro
Têm que ser evacuados.
São os rapazes picados
Por abelhas assassinas,
E ficam todos inchados…
- Pior do que pisar minas.
Há falta de pessoal,
- Queixava-me eu aos chefões -
Dizem eles:- “não faz mal,
Faça cinco pelotões!”
Para nossa grande mágoa
O serviço era bem duro
De noite, guardar a água,
Que é fora da cerca, o furo!
Era só dar-lhes na tola
Parecia um filme do Rambo
Mandam dormir na escola
Para guardar o Matambo.
Soldadinho não lhas poupas,
Estás farto da chicalhada.
Cantas-lhe: “só mandam bocas
Não sabem fazer mais nada!...”
Nos carros, p´ra protecção
Chegamos a pôr uns troncos;
Proíbe-os logo um chefão
- Eram todos muito broncos -.
E diz de má catadura,
Que é mais barato arranjar
Soldados p´ra viatura
Do que esta, se avariar!
E resolvemos então
- O que não foi má ideia -
Psicológica acção
Aos pretinhos dar boleia!
Há mais coisas p´ra dizer
Mas falta-me a inspiração,
Umas, é melhor esquecer
Outras, não há… permissão.
Se deixei de relatar
Uma ou outra aventura
Não me podia alargar
Veio comigo… a Censura!...
Desculpai ter-me alongado
Mas só tive a intenção,
De nos rirmos um bocado
Com histórias… que já lá vão.
Os temores, o sofrimento,
Ansiedades, privações,
São no nosso pensamento
Apenas recordações.
Tantos anos já volvidos
Aqui nos trouxe a amizade
P´ra recordar tempos idos
Que afinal deixam saudade.
Se alguém ficou melindrado
Ao ouvir tal brincadeira,
Queixa-se ao Advogado
Ao tal Dr. Oliveira.
E agora vou terminar
Com os meus votos de amizade
E a todos vou desejar
Saúde e prosperidade.
E outro voto aqui faço:-
Que haja outra reunião;
Até lá fica um abraço
Cá do velho Capitão.
Autoria: O "nosso" Capitão
Graças e Desgraças 4
É de ficar meio zuca;
Por dias ficou privado
De disparar a bazuca…
As cabras também se acercam;
Junta-as o nosso primeiro,
E p´ra que elas não se percam
Fez do “mainato” cabreiro…
Só já não sei se o mainato
Era o Celestino amigo,
A que alguns - que desacata –
Mediram… o que eu não digo!
Do Quilómetro Dezanove
Trinta anos já lá vão
A amizade nos move
Aqui estamos no Fundão.
E temos que confessar
Que o Seixas em Moçambique
Não se pode comparar
Ao Restaurante Alambique,
Mal feito fora também;
Nós que já não somos Chekas,
Trataram-nos hoje bem
Pois que entramos com as lecas!...
Não tivemos outro nome
Mas para que a malta anime
Chegamos a ter renome
De sucursal do “Maxime”.
Não nos interpretem mal;
Estávamos tão enfadados
Só queríamos festival
De guitarradas e fados…
Quem andava com intrigas,
Era do Maxime o dono;
Tinham folga as raparigas
Voltavam sempre… com sono!
Afinal tudo acabou,
Para não haver mais tricas,
Quando uma delas levou
O dançarino maricas…
Se as fulaninhas lá vão,
O convite não foi meu
Só dei autorização…
E o crime… já prescreveu!
Na rádio, discos pedidos,
São dedicados à malta.
Um dos mais favorecidos,
O Félix estava em alta…
“Que era o Alferes mais bonito
De Tete e da região;
Olhos azuis e loirito”,
Diziam que era um pão”!
Nas férias foi visitar
Lourenço Marques um dia
As lecas estava a gastar
Regressou à Companhia.
Com um carro alugado
Quis fazer um figurão,
Entrou na curva largado
Estampou-se fora de mão…
O nosso Alferes Silveirinha
Logo de início, que fez?
Como tinha cabecinha
Pirou-se para os GEP´s.
Lá consegue seus intentos,
E armado em Bom Menino
Visitava o Movimento
Nacional e Feminino.
E não sei lá com que manha,
Com que artes ou favor,
Vejam que até lhes apanha
Certa vez um projector…
Houve um certo graduado
Que andou a arrastar a asa;
Gasta o dinheiro, coitado
E pede mais… para casa…
Lembro-me doutro infeliz
Devido a uma bravata
Vende a máquina se quis,
Continuar com a mulata…
A equipe de condutores,
- Muito unidos por sinal –
Armaram-se em caçadores
E não se saíram mal.
Mostram ter habilidade
E certeira pontaria,
E dão p´ra comunidade
Só parte da montaria.
Enchem a vagomestria
C´o o produto das caçadas
Mas retiram a maquia
Para as suas patuscadas.
São coelhos aos montões
São gazelas e veados;
Ficam com boas rações
P´ra fazerem uns guisados.
Se a Polícia Militar
Em Tete apanha um soldado
Caça lhes vou lá levar
P´ra safar o desgraçado.
Estávamos perto de Tete
Companhia independente,
O BCAC 17,
Sector F ao pé da gente.
Isso era mau, não se nega,
Pois p´ra dar também o mote
Ainda tínhamos à pega
O comandante da ZOT.
Cargas críticas, na Beira,
Está sediado o comando;
Em viagem rotineira
Lá estava de vez em quando.
Estar tão perto da cidade
Traz algumas regalias;
Muitos com habilidade,
Iam lá todos os dias…
Uma bica no Café,
Uma cerveja gelada,
Uma fuga ao Cabaret
Que tropa “desenfiada”!
Uma vez, de vez em quando
Ainda havia outro esquema
E lá se ia arranjando
Uma fuga p´ró cinema!
E à tardinha lá vão
Quase todos, que alegria,
À escola de condução
Que já em Tete existia.
De ligeiros, e pesados,
Profissionais, amadores,
Todos ficam encartados
Excelentes condutores.
Mas como foram treinados
Pela esquerda, que era a mão,
Cá viram-se atrapalhados
De início, que confusão!
E do tal, quem não se lembra
Que levava as cervejinhas
Tinha palhota na Temba
- A casa da Mariquinhas…
Os soldados africanos
Quando recebem o pré
Ficavam todos ufanos
Era dia de banzé.
Na cerveja - uma bazuca -
Cachaça iam deitar
Que lhes dava a volta à cuca
Ninguém os pode aturar.
Piores eram os GE´s
Selvagens e primitivos;
Dão rajadas de G-três
Sem terem quaisquer motivos.
Autoria: O "nosso" Capitão
Graças e Desgraças 3
Como faz fotografia,
“Foto Cumba” lhe ficou
De alcunha, na Companhia.
Andou a tirar a carta;
E ao fim de umas lições,
Julga saber que se farta
E que sabe usar travões.
Pega numa Berliet
Dá-lhe uma aceleradela;
Na porta de armas, pois é,
Até derruba a cancela!
Um dia, para o jantar,
Fez arroz com peixe frito;
Toda a malta a refilar,
Fica o rapaz aflito.
Levantamento de rancho!
Batem latas, que desgraça;
Mas eu cá não me desmancho
E fui ver o que se passa.
Diz o Seixas enrascado,
- a gaguejar por sinal:-
Que cozinhava coitado
Para tanto pessoal…
Com certa diplomacia,
Mas dizendo mal da vida,
Mandei formar Companhia
E me trouxessem comida.
C´o pessoal em sentido,
Ali mesmo eu repeti,
O que eu já tinha comido
Antes e que não morri.
Não me matara a ração,
Nem me dera diarreia,
Façam como o capitão
Não façam carinha feia…
Os ânimos acalmaram,
E salvou-se a situação;
Soube depois que chamaram
“Lateiro” ao capitão…
“Nunca deixa de emborcar,
Mesmo se a comida é fraca;
E até repete ao jantar
Quando o almoço é mão de vaca!...
Há muitas outras facécias
Que vou tentar relatar;
Algumas das peripécias
P´ra hoje aqui relembrar.
Certa noite a sentinela,
Junto ao arame farpado,
- Até lhe treme a espinhela –
Ao ver um vulto encorpado.
Como faz um bom guerreiro,
- Mandam NEP´s já se vê –
Deve-se atirar primeiro…
Depois perguntar quem é!
E o rapaz assim fez,
E ouviu uns grandes zurros.
De manhã viu que a G-3
Também dá p´ra matar burros…
Mas desde então, só vos digo,
Até ficamos mais ricos,
Pois que procurando abrigo
Chegaram uns tantos jericos.
Toda a gente experimentou
Seus dotes de cavaleiro;
Nem o tal “Moiro” escapou
- Que era o nosso primeiro!
E logo pela madrugada,
Ali pela estrada fora
Se formou a cavalgada
Sem cela, estribo ou espora…
E eu cheguei a pensar:
“Deste modo a Companhia,
Com os burros vai passar
A ser de Cavalaria!...”
O Ferrinho Furriel,
- Inda fez disso segredo -
Foi ao montar seu corcel
Que terá partido… um dedo!
Autoria: O "nosso" Capitão
Graças e Desgraças 2
Mas a malta p´ra animar
Diz que a tal “chuva civil”
Nunca molha militar!
Uma tenda p´ros papéis,
Onde ficam os sargentos;
Uma só p´ros furriéis,
E outra p´ros mantimentos.
Outra para as transmissões,
- Posto de telegrafia –
Outra para as injecções,
Que sirva de enfermaria!
Uma só p´ra oficiais
Que suas razões alegam,
Fardamento, materiais,
- Bolas que as tendas não chegam!...
Mas há que desenrascar;
E só com panos e estacas,
Lá se conseguem montar
Mais umas tantas barracas.
E há também que escavar
P´ra protecção, as trincheiras;
Que os turras estão a espreitar
E as noites são traiçoeiras.
Outra vala há que afundar,
Longe de cada barraca;
Quando a vontade apertar
P´ra se poder fazer… caca!
A noite chega bem cedo
E a malta está estafada.
Vai-se deitar, mas com medo
De vir a ser atacada.
Ouvem-se tiros então
Naquela noite de breu;
Quem começou não sei não,
Toda a gente respondeu.
Sem ver o alvo, atirar,
Só p´ra assustar, mas que asneira,
Há o perigo de ficar
Sem balas na cartucheira.
E lá saio a berrar
A dizer aos rapazotes
Para os cartuchos poupar
Que o resto… está nos caixotes!
Mas naquela aflição
- Ai de mim nem reparei -
Estava em cuecas, e então,
Eu em alvo me tornei…
No meio do acampamento
Com as minhas brancas cuecas
Pensei naquele momento
Afinal somos bem “Chekas”.
E até um dos sargentos
O Silva, já tarimbado,
Com o morteiro sessenta
Fez fogo p´ra todo o lado.
Mas o alarme era falso;
Fora alguém que se assustou,
Cometendo esse percalço
E aos tiros começou.
Das tendas, no Sol nascente,
A gente tem que saltar
Ficava aquilo tão quente
Sai-se para não assar.
Quando nos queremos vestir
Temos que nos pôr de gatas E a roupa sacudir
Ou saltamos com as baratas.
Mandei fazer para mim,
De princípio, uma palhota
Maticada e com capim
E que era mais frescota.
Quando acaso se estampava
Auto-tanque com cimento
Logo a gente o confiscava
Melhorando o acampamento.
A água se ia buscar
No início ao AB 7
Tendo que calcorrear
‘Inda para lá de Tete.
De gasóleo eram os bidons
Onde a água se acarretava;
Ficavam os comeres tão bons
Com o cheiro que aquilo dava!
A cozinha, a céu aberto,
Era coisa emporcalhada;
E com as moscas decerto
Era a carne recheada…
O Seixas bem se esforçou,
-Que era o cabo cozinheiro -
Umas chapas arranjou
E ali fez um telheiro.
Autoria: O "nosso" Capitão
Graças e desgraças
Que estavas na tua terra;
Nesse fatídico ano,
Lá te chamaram p´ra guerra.
Já tinhas ido à inspecção
Para verem se eras macho;
Puseram-te “à pai Adão”
- “Apurado” – é o despacho!
Na recruta vão-te dar
Da tropa toda a ciência;
Lá aprendeste a marchar
E a fazer continência.
Dão-te a mochila e a farda,
A bota sempre engraxada;
Dão-te a G-3 e não tarda
Fazes fogo de rajada.
Para formar companhia
Mandam-te depois p´ra Abrantes,
R.I. 2 de Infantaria,
- Todos uns principiantes.
Os Alferes e os Furriéis
Até nem são maus fulanos,
Pois que como vós sabeis
São todos milicianos.
E até o Capitão…
- Cambada de maçaricos –
Não há regra sem excepção
Só os sargentos são “chicos”.
Depois Santa Margarida
P´ra fazer o I.A.O.
Instrução interrompida
Foi uma semana só!
A guerra estava acirrada
Junto a Tete, em Moçambique,
A zona está conturbada
É bom que alguém ali fique.
E num Janeiro gelado
- Trinta anos já lá vão –
Dão-nos o camuflado,
Metem-nos num avião!
E aterramos na Beira
Com um calor de escaldar;
De quartel não há maneira…
- E temos de ir acampar.
Dão-nos tendas de ciganos,
Mandam-nos seguir p´ra Norte
Com os G.I.´s africanos,
E dizemos mal da sorte.
Lá vamos em caravana,
Mas o jipe do capitão
Nega-se a ir na gincana,
E segue… num camião!
Mais adiante é um “pincha”
Que também gostou da ideia
- “Burro” lhe chamam, relincha,
E quer seguir… de boleia.
Os condutores, encartados,
Têm do CICA instrução
Viram-se logo enrascados
Que é à esquerda a condução.
Um deles, que é um artista,
P´ra manter a ligação
E a coluna bem à vista
Para numa curva então.
Vem por trás muito largada
Outra viatura à mão;
E dá-lhe uma pantufada
Deitando uns poucos ao chão.
Fica um G.I. aleijado
Queixa-se da articulação.
Mais um carro avariado
Reboca-o o camião!
Com a coisa a ficar feia
C´os percalços da jornada
Dorme-se em Vila Gouveia
Nos carros – não há mais nada!
Lá montamos arraial
Nas redondezas de Tete,
No meio do matagal
Sem abrigo e sem retrete.
Uma chuvada madraça
Sobre nós então se abate;
Faz logo uma caloraça
E só há ração de combate.
Com a chuva a fustigar
A montar o acampamento,
Carros a descarregar
Era grande o desalento.
Autoria: O "nosso" Capitão
Palavras do "nosso" Capitão
Este espaço é dedicado a todos os companheiros, antigos militares da CCAÇ 4244/72, que prestaram serviço em Moçambique, nos anos de 1973 e 1974, tendo "acampado", (na plena acepção da palavra), no Km 19, a Sul de Tete.
Pretende ser um ponto de encontro, onde a todos seja mais fácil contactar com aqueles que partilharam em conjunto, perigos, receios, angústias, privações, saudades, mas também os melhores momentos de sã fraternidade e camaradagem, e da maior solidariedade a que, naturalmente, as circunstâncias tão adversas nos impeliam.
Paradoxalmente, a mente humana tem tendência a recordar com nostalgia mesmo o passado de maior sofrimento, aproveitando o que de bom apareceu na nossa vida, até nessas ocasiões dramáticas, que logicamente se deveriam querer empurrar para os mais fundos alçapões do subconsciente.
E levados por essa “saudade” é que desde há uns tempos nos temos reunido anualmente, devendo realçar-se a tal propósito, o mérito do Tó Luís – cabo enfermeiro - e do Furriel Gravelho, que, correspondendo ao recôndito desejo de todos, tomaram a iniciativa de promover o primeiro encontro, no Fundão, em 2003. Para isso diligenciaram junto do Quartel de Abrantes, onde se formara a Companhia, pela obtenção dos endereços de todos, mas que obviamente se mostravam completamente desactualizados, pela natural debandada das terras natais, até para o estrangeiro, em busca de melhores oportunidades.
Mesmo assim foi um sucesso essa primeira reunião, vivida por todos com grande emoção, ao encontrarmos velhos amigos, decorridos todos esses anos, e ao evocar as coisas, boas e más, que tão intensamente tínhamos vivido juntos. Foi na verdade um momento ímpar de confraternização e saudosismo.
Desde então têm-se vindo a efectuar reuniões anuais. Em 2004 de novo no Fundão, convocados outra vez pelo Tó Luis; em 2005 em Folgozinho, da iniciativa do Guerra e do Sousa; em 2006 na Póvoa do Varzim, promovida pelo Furriel Martins; e em 2007 em Almeirim, movida pelo Gregório, sendo de enaltecer a disponibilidade mostrada pelo Tó Luís, sempre disposto a colaborar, e que todos reconhecem ser o grande impulsionador destes convívios. A reunião deste ano, da iniciativa do Furriel Delgado, vai ser já no dia 17 do corrente mês de Maio, na Sertã.
Como forma de se criar um registo actualizado dos contactos, e acessível a todos, alguém pensou na criação de um “site” na Net, ou coisa parecida, e o Monteiro, o cabo cripto, chegou mesmo a afirmar que estava a laborar nesse sentido, até já antes da reunião do ano transacto. Mas afinal não passou de uma boa intenção, pelos vistos! E há uns tempos atrás, o Alferes Cardoso lançava-me o repto…pois que, segundo ele, quem melhor que o velho “ Capitão” para coligir e registar as “ histórias” da Companhia, e centralizar as informações de todos!...Retorqui que não tinha os necessários conhecimentos destas novas tecnologias, mas acontece que há uns dias, nestas andanças e convívios pela Internete, me surgiu uma bondosa desconhecida disposta a ajudar na criação deste espaço, e ao ver a sua boa vontade, decidi aceitar.
E eis a explicação para o nascimento desta espécie de Blog.
Impõe-se pois uma palavra de gratidão para com essa “ Amiga”, com o pseudónimo de “Nina”, pois foi ela que o criou, e por isso a convidei para ser a nossa “Madrinha de Guerra”, cargo que mais uma vez generosamente aceitou!... Bem-haja pois, “ Madrinha”.
O Blog será o que os companheiros quiserem. A todos vós lanço o desafio para colaborarem, enviando para o endereço “ km19-tete@hotmail.com” as vossas moradas e contactos, que serão exibidos, as vossas memórias e notícias, (que aliás podem lá colocar directamente, quer como comentários, quer no chamado livro de visitas). E mandem sobretudo fotografias daqueles tempos ( e até actuais), que serão exibidas em álbuns .
Na tropa dizia-se que voluntário, nem para o rancho… ( e para o do Seixas particularmente…), mas a tropa felizmente para nós já acabou, e portanto, se houver um “ voluntário” tecnicamente mais bem apetrechado e que queira “gerir” esta coisa, de bom grado abdico do “ comando”!...Na altura também tinha abdicado, se mo tivessem consentido!...
Eu vou colocar as fotos de que disponho, ( a maior parte amavelmente cedidas pelo Alferes Silveirinha), os versos que fiz por ocasião do primeiro encontro, " Graças ...e desgraças", onde procurei resumir, de forma pitoresca, as nossas peripécias, e outros quando dos nossos encontros - que colei como comentários às fotos de grupo -, mas fico a contar convosco e com a vossa colaboração. Cá vos espero!...
Não poso deixar de invocar os saudosos companheiros, os Furrieis Oliveira e Castro, falecidos poucos dias após a nossa chegada, nas fatídicas circunstâncias que todos conhecemos, e que estão presentes no nosso pensamento e sempre relembrados nos nossos convívios. Que tenham encontrado a paz que neste mundo lhes foi negada.
Um abraço do velho e miliciano “ Capitão”.